A Espada era a Lei [Olhar Divergente]




O mito arturiano nasce com as invasões saxãs à Grã-Bretanha no início do século VI. Apesar da escassez de provas históricas confiáveis, a história do Rei Artur e sua luta contra os invasores se tornou parte do folclore da região até 1138, quando Godofredo de Monmouth publica o célebre livro Historia Regum Britanniae, onde ele narra e enaltece a figura mítica de um rei justo e poderoso que luta contra os invasores externos e seus próprios demônios. 

Rei Atur
Historia Regum Britanniae
No seu livro, Godofredo narra a vida de Uther Pendragon (pai de Artur), a influência do Mago Merlin, a existência da célebre espada Excalibur, além da fatídica batalha final contra o seu filho bastardo, Mordred, e o fim de Avalon.

Misturando fatos que poderiam ser comprovados com pura fantasia, Godofredo cria um personagem mítico, a personalização de um herói imaginado que poderia, como a própria narrativa do conto enfatiza, unir a Grã-Bretanha em um só reino. O personagem de Godofredo era forte e hábil, mas a sua história seria ampliada mais uma vez.


Sir Lancelote
Chrétien de Troyes, um escritor francês que viveu entre 1135 a 1191, modifica a história de Artur e estabelece novos enlaces, preocupado, exclusivamente, com os aspectos estéticos, narrativos e religiosos do tema. Troyes busca o amor cortês, sublime, inacessível, não-carnal, puro na sua essência, como bem convinha à Igreja Medieval. Ele cria Lancelote, a Rainha Guinevere e a Busca pelo Santo Graal.

Estabelecia-se, com estes dois autores, a literatura arturiana e cavalheiresca. Enaltecendo a pureza dos cavaleiros (talvez como uma forma de dourar a pílula frente aos violentos combates da época), as histórias de cavalaria atravessariam séculos e se tornariam um marco da Idade Média. Decaindo no gosto da nova burguesia que emergiu no renascimento, ele teve uma retomada no século XIX e permanece ativa até hoje.

Autores atuais têm escrito e reescrito a história do Rei Artur, das mais diversas formas. Bernard Cornwell nos apresenta um Rei Artur mais humano, um Merlin que duvida tanto da magia quanto os homens simples que batalham junto ao rei e uma Morgana tão perversa como uma fada maligna poderia ser. A trilogia “As Crônicas de Artur” de Cornwell está centrada na batalha, como era razoável supor de um autor que fez sucesso com seus romances históricos.

As Crônicas de Artur
O Único e Eterno Rei
T.H. White, um autor britânico da primeira metade do século passado, também trouxe uma versão mais atual para o tema. A sua série, “O Único e Eterno Rei” é composta por cinco livros e descreve um rei Artur mais diplomático, mais preocupado com o seu reino; as batalhas são importantes, mas o futuro da Britanniae é o que importa.


Na década de oitenta, outra versão correu o mundo. Contada sob o ponto de vista das mulheres que permeiam a história, “As Brumas de Avalon”, uma quadrilogia da estadunidense Marion Zimmer Bradley, tem como principais características explorar o lado pagão e sua dualidade com o cristianismo que invadia o reino na época. Além, é claro, de estabelecer o ponto de vista das personagens femininas, que eram relegadas em outras obras.



O Príncipe Valente
Outras mídias também se aproveitaram do fascínio pelas crônicas do rei Artur. Uma das primeiras foi Príncipe Valente, publicada em tiras de jornais a partir de 1937 e criada por Hal Foster. Ele conta a história de um cavaleiro, Valiant, um príncipe nórdico que se torna um dos cavaleiros da távola redonda e percorre boa parte da história medieval, envolvido em batalhas e resgates heroicos.

Camelot 3000 é uma história em quadrinhos publicada entre 1982 e 1985, que narra as aventuras do Rei Artur, Merlin e os demais Cavaleiros reencarnados no ano de 3000 para lutar contra uma frota alienígena comandada por Morgana Le Fay!

Camelot 3000
A televisão também se aproveitou do tema: As Aventuras de Sir Lancelot (ITV, 1956), Artur dos Bretões (ITV, 1972), Camelot (Channel 4, 2011) e Merlin (BBC, 2008) são apenas alguns exemplos. O cinema seguidamente explora o tema e já possui mais de duas dezenas de filmes baseados nas crônicas arturianas.

E no Brasil?

Bom, o fenômeno do Rei Artur também alcançou terras tupiniquins. Afinal, se trata de uma história universal e poucos podem desprezar um conto onde o romance, a aventura e a fantasia batalham lado a lado.

A última iniciativa no gênero foi capitaneada por Ana LúciaMerege, escritora carioca que organizou a antologia “Excalibur – Histórias de Reis, Magos e Távolas Redondas” (Editora Draco, 2013). A coletânea apresenta doze contos, escritos por autores brasileiros, que contam e recontam a mitologia arturiana, indo audaciosamente onde a imaginação jamais esteve. Da mitologia celta ao steampunk, a távola de contos explora o mito em todas as suas vertentes.



Em pré-venda e já disponível para as plataformas on-line, o livro foi muito bem editado e não pode faltar na prateleira (virtual ou física) dos aficionados pela literatura dos cavaleiros em suas armaduras brilhantes. 

Afinal, o Rei Está Morto!

Vida longa ao Rei!


A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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