[Olhar Divergente] Pelos poderes dos Autobots! Epa, peraí...




As series animadas foram largamente utilizadas para a venda de brinquedos nas últimas décadas. As grandes empresas sempre estiveram de olho no mercado de entretenimento, procurando nichos onde eles pudessem estabelecer parecerias para o desenvolvimento de produtos. Hoje em dia, isso é absolutamente comum. Dificilmente você verá uma grande produção de animação que não venha acompanhada por uma forte campanha de marketing que inclui a produção e comercialização de bonecos, videogames, puzzles, copos e sabe-se lá mais o quê.

De olho neste filão, as empresas de brinquedos resolveram investir no desenvolvimento das suas próprias histórias. A questão era simples: porque pagar milhões em royalties, se eu poderia produzir os meus próprios personagens?

A primeira a se aventurar neste ramo foi a Mattel Toys, que produziu um desenho animado para popularizar um dos seus principais produtos: o Hot Wheels. Desenvolvido entre 1969 e 1971, os desenhos passavam na americana ABC. A abertura tinha um quê de Speed Racer.


No entanto, a empresa Topper, rival da Mattel nos EUA, fez um lobby intensivo para proibir que as empresas pudessem anunciar seus produtos enquanto exibiam os desenhos ou filmes alusivos ao mesmo. Esta lei passou em 1969 e deu uma bela brecada no desenvolvimento de novas produções.

HQ no Brasil 
Somente em 1984 os regulamentos nos EUA foram alterados, removendo grande parte das restrições relativas aos programas infantis. Aproveitando esta brecha, a Hasbro, que já desenvolvia histórias em quadrinhos com a Marvel, adotou uma estratégia agressiva que unia seus brinquedos aos desenhos animados. Uma das primeiras produções neste período foi “G.I. Joe”, conhecida aqui como “Comandos em Ação”. Abarcando uma impressionante gama de brinquedos, a série televisava iniciou em 1983 e se manteve ativa até 1986, com 95 episódios produzidos, gerando várias continuações. Na época, a editora Marvel lançou diversas histórias com os personagens, que chegaram ao Brasil pela editora Globo. A série contava a história de um comando militar especial multinacional, com personagens franceses, ingleses e, obviamente, americanos. Mesmo nos anos da Guerra Fria, a Hasbro preferiu não criar polemicas e não focou os vilões no cânone anti-americano predileto: comunistas.  O seu principal inimigo se tornou a organização terrorista “Cobra” e eles lutavam em boa parte do globo. Recentemente, a série foi revitalizada para o cinema com os lançamentos de “G.I.Joe: The Rise of Cobra” (2009) e “G.I.Joe: Retaliation” (2013), ambos alcançando números expressivos nas bilheterias.
Os Brinquedos G.I.Joe - Grandes e Caros!



Capitão Powers
Entre 1987-88, uma produção canadense chamada “Captain Power and the Soldiers of The Future” apresentava uma série que misturava atores reais com animação. Baseado em uma linha de produtos da Mattel, cada episódio exibia um segmento que inseria os próprios brinquedos na narrativa. Uma das grandes sacadas da programação foi a utilização de comerciais “fake” nos intervalos. Você começava a ver um comercial de sabão em pó e a programação era “interrompida” por uma mensagem do futuro, onde o próprio Capitão Powers conclamava os bravos “soldados” a unirem-se à batalha pelo futuro da humanidade! Sigam-me os bons!



Linha de produtos no Brasil
Outro personagem que fez bastante sucesso tanto no Brasil quanto no exterior foi o icônico, boa-pinta e musculoso “He-Man and The Masters of Universe”. Baseado em uma franquia de sucesso da Mattel, conhecida apenas como “Masters of Universe”, o desenho animado foi lançado em 1983 e possui duas séries de 65 episódios cada. Até hoje o desenho é reprisado tanto nos EUA quanto aqui (atualmente, a série passa no canal a cabo Gloob). Dois fatos merecem a atenção: a) He-Man foi um dos primeiros desenhos que traziam uma carga didática, onde toda a história levava a um desdobramento moral/ético que era comentado pelos personagens após o fim do episódio; b) na época, houve várias associações puritanas americanas (sempre elas) que estavam preocupadas com o caráter supostamente incestuoso da relação dos personagens Batman e Robin. Seja para não se preocupar com este tipo de carolagem ou porque já havia uma preocupação de se mostrar como um desenho “familiar”, o nome do personagem não poderia ter saído mais heterossexualizado: He-Man (Ele, o Homem, numa tradução livre).

Uma observação: meu estômago não permite que eu comente sobre “As Novas Aventuras de He-Man” (1990), muito menos o filme “Master of Universe” (1987) com Dolph “Trash” Lundgren no papel título. Me poupem.

Não, não é a Barbie...
Na mesma linha, em 1985, a Mattel lançou a linha de brinquedos “Princess of Power” e, na sequência, o desenho “She-Ra: Princess of Power”, tentando alcançar uma audiência feminina baseada na estúpida assertiva que somente garotos assistiam “He-Man”. A série teve duas temporadas, com 93 episódios ao total. A moça seria uma irmã de He-Man que vive em outro planeta e que luta contra outros vilões, todos toscamente copiados do original. Foi cancelada junto com o original e nunca mais se ouviu falar dela.


Uma das principais séries lançadas neste período, principalmente por causa da sua longevidade, foi Transformers. O produtor japonês Takada e a Hasbro lançaram uma série de brinquedos conhecidos como Transformers, basicamente robôs alienígenas que se escondiam na Terra transformados em automóveis  e outros construtos. A primeira temporada iniciou em 1984, com um episódio piloto e mais 14 episódios.  Devido ao enorme sucesso, a segunda temporada teve 49 episódios. Em 1986, um longa animado foi produzido, seguido de mais três séries animadas e diversos outros spin-offs:
(Geração II, The Headmasters, Super-God Masterforce, Victory, Zone, Beast Wars, Armada, Energon, Cybertron, Transformers Animated, Prime e Rescue Bots  - este último voltada para um público infantil). As histórias se entrelaçavam ou ignoravam totalmente as demais, o que dependia totalmente do estúdio encarregado. O que unia todas as produções era a quantidade absurda de brinquedos produzidos para cada uma. Também temos os três filmes de Michael Bay... Bem, o sujeito fez Pearl Harbor e Armageddon... Não dava para esperar muito, mesmo. Fora o fato de ver os robôs “ao vivo”, não sobra muita coisa para comentar. A Paramount anunciou que iria fazer um reboot com Transformers 4, mas entregou o filme para o Bay novamente. Vá entender...

Action Man foi um desenho britânico (1995-1996) baseado na linha de brinquedos da Hasbro. A história contava as aventuras do personagem, que era membro de uma liga multinacional (Action Force), que lutava contra as forças terroristas do Dr.X e o seu Conselho da Destruição. Houve duas séries, com vinte e seis episódios ao total. 



Quarenta episódios de “Littlest Pet Shop” foram produzidos em 1995 para a companhia Kenner, que pretendia divulgar sua linha de produtos para as crianças. A história contava a vida de cinco animais minúsculos que vivem em uma pethouse e que moravam em uma casa na árvore. Foi uma das primeiras séries voltadas exclusivamente para o público infantil.

Na última década, pode-se destacar os Beyblades, uma série manga japonesa produzida para incentivar a venda dos famosos brinquedos que lembram piões futuristas (e que dariam vida aos NinjaGo, mestes do Spinjitzu, da Lego) da empresa Takara Tomy (mais tarde, os direitos foram vendidos para a Hasbro). Houve três grandes temporadas: BeyBlade, BeyBlade: V-Force e BeyBalde: G-Revolution.




Hoje, encontram-se em produção desenhos como “Chuck and Friends”, “Bakugan”, “G.I.Joe: Renegades”, “Hero Factory”, “Lego Ninjago”, “Max Steel”, “My Little Ponny”, “Slugterrâneos”, “Transformers” e vários outros que surgem e desparecem tanto quanto a sua popularidade. O par brinquedo-desenho parece imbatível e, provavelmente, deve render ainda muitos frutos pela frente.

No entanto, as questões éticas levantadas em 1969, mesmo que fossem para barrar um sucesso comercial, não podem ser ignoradas. Há um movimento forte no sentido de levantar-se novamente as barreiras, tentando proteger as crianças do consumismo exagerado. Esta mesma bandeira já foi levantada para outras áreas, como a alimentação infantil, visando proibir a venda casada lanches-hipercalóricos-e-pouco-saudáveis com brinquedos. Sim, estou falando dos lanches felizes e todos os seus clones.

Fatalmente o levantar destas barreiras pode brecar ou desestabilizar novas produções, mas me parece um preço pequeno a pagar pelo nosso futuro.  Além disso, convém lembrar que produções que não tinham ligação com brinquedos nos deixaram Os Simpsons e Avatar: The Last Airbander.

Mas, para quem gosta, sempre haverá os Pôneis Malditos...

Tra-la-la-la-la-lá!

ARGH!

A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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