Uma Série de Livros em Série


A produção de livros em série, notadamente o desenvolvimento de sagas literárias, tem se tornado uma opção bastante comum para os autores atuais. Impulsionados pelas legiões de fãs que se abastecem das histórias desenvolvidas em diversos “capítulos”, os romances seriados rapidamente se tornaram uma fonte lucrativa para as editoras. O caso da Amazon americana é esclarecedor. Veja os números dos livros mais vendidos em cada ano:






A história dos livros em série é controversa. O desenvolvimento de histórias que se seguem não é nenhuma novidade. No século XVI, Rabelais publicou as aventuras de Gargantua e Pantagruel em cinco livros, sendo que o primeiro foi lançado em 1532. Talvez esta tenha sido a primeira série de livros, mas há outros que brigam pela primazia, dependendo da forma como a escrita é analisada. Os contos de Chaucer Canterbury foram publicados no final do século XII; no entanto, muitos defendem que esta coletânea de contos possui muita pouca relação entre si para serem considerados uma verdadeira série de livros.

Mais tarde, autores famosos se utilizariam destas experiências para desenvolver suas próprias séries: Alexandre Dumas (Os Três Mosqueteiros, Vinte Anos Após e O Visconde de Bragelonne), Júlio Verne, que teve alguns personagens recorrentes como Capitão Nemo, Tom Ayrton, Lorde Glenarvan e Robur e, mais tarde, as séries policiais de Agatha Christie (Hercule Poirot e Miss Marple) e Conan Doyle (Sherlock Holmes). É importante notar que, para estes últimos, a construção da série de livros estava muito mais centrada no desenvolvimento de histórias estanques de que em uma continuidade verdadeiramente planejada. Agatha Christie e Conan Doyle acabam desenvolvendo os seus personagens pouco a pouco, até mesmo revelando características nos livros subsequentes que não aparecem nos primeiros. Mas este é a menor das suas preocupações; as suas histórias podem ser lidas em qualquer ordem, na maioria das vezes, pois o que importa é o drama que se desenrola naquele momento em detrimento a uma mitologia maior que estaria por trás das histórias. Neste sentido, talvez Conan Doyle tenha se preocupado com isso de forma um pouco mais acentuada: a suposta morte de Holmes nas cataratas Reichenbach é preparada em alguns contos anteriores e finalmente desemboca no Problema Final. Em Cai o Pano, a última aventura de Hercule Poirot, todo o contexto é apresentado dentro de uma única obra.

A fantasia não poderia deixar de beber desta fonte; na verdade, no início do desenvolvimento do gênero fantástico muitas histórias foram construídas dentro dos três ciclos que parecem ter balizado os autores da Idade Média: a Origem de Roma, a Origem da França e a Origem da Bretanha, onde Alexander, o Grande, Roland e o Rei Artur assumiam o papel de paladinos destas nações em várias situações.

Muito mais tarde, autores de terror desenvolveriam histórias seriadas, principalmente se utilizando de um veículo que se tornara popular com Conan Doyle: as revistas de literatura popular. Edgar Poe e Lovecraft foram dois autores que se tornaram populares através destas revistas; os Mitos de Cthulhu de Lovecraft, constituído de quase cinquenta contos e noveletas, ainda representam uma das maiores criações em serie da literatura fantástica e ainda tem influenciado diversos autores de dark fantasy da atualidade. Neste período também seria publicados Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Outro Lado do Espelho (Lewis Carroll), a série Oz, de quatorze títulos, sendo que o mais conhecido é O Maravilhoso Mundo de Oz (L. Frank Baum), Peter Pan, Peter Pan in Kensington Gardens e Peter e Wendy (J.M.Barie). Já na década de 50, Kull e Conan, o Bárbaro, de Robert E. Howard começou a ser publicado regularmente em revistas de ficção e fantasia.

Então, o Senhor dos Aneis é publicado. Ainda há controvérsias se a história pode ser considerada realmente uma serie de livros; afinal, o próprio Tolkien o desenvolveu como um livro só e pretendia publicá-lo desta forma. Foi o seu editor que o convenceu do contrário. No entanto, se considerarmos O Hobitt e, mais tarde, O Silmarillion e outras noveletas como As Aventuras de Tom Bombadil, é crível que a história completa da Terra-Média seja considerada uma série de livros. A influência de Tolkien na fantasia dificilmente pode ser medida; em vários grupos diferentes, o Senhor dos Aneis é considerado o mais importante livro do século e nada indica que tal posição possa se alterar tão cedo. De qualquer forma, a publicação dos livros claramente impulsionou o desenvolvimento da fantasia; seu grande amigo, C.S. Lewis, publicaria na mesma época as Crônicas de Nárnia, também dividida em volumes, estabelecendo, inclusive, um prequel anos depois dO Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa terem sido publicados.

Seguiram-se várias séries que obtiveram maior ou menor sucesso: The Chronicles of Thomas Covenant – Stephen R. Donaldosn, Black Company – Glen Cook, Wheel of Time – Robert Jordan, Memory, Sorrow, and Thorn – Tad Williams. Na década de oitenta, Xanth – Piers Anthony e Discworld –  Terry Pratchett apareciam, regularmente, na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos.

Então, com a série Harry Potter, a fantasia voltada para o público infanto-juvenil ou “Young-adult” deu um novo salto. Bebendo fortemente nas histórias de internato do século XVIII e XIX, Rowling desenvolveu uma série de fantasia que ainda é, hoje, o conjunto de livros mais vendido no mundo. Juntos e na esteira do sucesso de Rowling, surgiram as séries Percy Jackson (Rick Riordan), Artemis Fowl (Eoin Colfer), Herança (Christopher Paolini), e, mais tarde, Twilight (Stephen Meyer), Jogos Vorazes (Suzanne Collins), Diários de um Vampiro (L.J. Smith), As Chaves do Reino (Garth Nix), Fronteiras do Universo (Philip Pullman) e tantos outros, que obtiveram diferentes graus de sucesso.

Atualmente, há series para todos os gostos; desde tijolos de mil páginas como as Crônicas de Gelo e Fogo (George R.R. Martin) até romances curtos e rápidos como a série As Aventuras do Caça-Feitiço (Joseph Delaney). Não há dúvidas de que o desenvolvimento de histórias em capítulos ainda tem muito a oferecer. Afinal, há muitas vantagens em desenvolver uma história em uma série de livros: a familiaridade dos leitores com os personagens, a inserção de elementos novos a uma mitologia já conhecida, expandido o universo original, e a possibilidade de criar uma história mais complexa que precisaria de tempo para ser contada. Também não pode ser ignorado que o mercado editorial se tornou ávido destes livros; afinal, o sucesso de um deles implica, normalmente, na venda dos diversos volumes da série e a campanha de divulgação se torna muito mais rentável.

As editoras e autores brasileiros não se tornou indiferente a esta situação; desde Monteiro Lobato, que desenvolveu toda uma serie de contos e livros com elementos fantásticos, escritores brasileiros tem desenvolvido romances em série. Da nova geração, pode-se citar Alfer Medeiros (série Fúria Lupina), Ana Lúcia Merege (cujo segundo volume da série O Castelo das Águias está sendo desenvolvida e deve ser lançado nos próximos meses), Andre Vianco (com as séries Vampiro-Rei, o Turno da Noite e Sétimo), Felipe Castilho (Ouro, Fogo e Megabytes – o segundo volume, Prata, Terra e Lua Cheia também deverá ser lançado nos próximos meses), Duda Falcão (série Protetores), Giulia Moon (Kaori I e Kaori II), Nazareth Fonseca (série Alma e Sangue), Douglas MCT (série Necropolis), Nikelen Witter (Série Territórios Invisíveis) e, é claro, A.Z. Cordenonsi (série Duncan Garibaldi, cujo segundo volume, Duncan Garibaldi e o Segredo da Sotéia, deve ser lançado ainda este ano).

Estiquem suas prateleiras e ergam suas estandes, meus amigos, porque os livros em série estão aí para ficar e as sagas literárias ainda vão manter o seu quinhão da literatura mundial.

CONVITE


Dias 12 e 13 de Abril, em Porto Alegre, vai ocorrer a II Odisséia de Literatura Fantástica, um evento que congrega autores, editores e, principalmente, leitores da literatura de fantasia no Brasil. Este ano eu vou participar de uma sessão de leitura junto com o autor Max Mallman, além de autografar meu romance (Duncan Garibaldi e a Ordem dos Bandeirantes) e vários contos que aparecem nas diversas antologias oque estarão sendo vendidos no local. Venham! A entrada é franca e o evento é um dos mais importantes do Brasil!




A lista dos livros mais vendidos do mundo é encabeçada pelo Conto de Duas Cidades (Dickens - 200 milhões) e O Senhor dos Aneis (Tolkien - 150 milhões).
Entre as séries de livros, o mais vendido é Harry Potter (Rowling - 450 milhões), seguido de Goosebumps (R.L.Stine - 300 milhões) e Perry Mason (Gardner - 300 milhões).
De língua não-inglesa, o mais vendido é O Pequeno Príncipe (Exupéry - 140 milhões), seguido do Dream of Red Chamber (Cao Xueqin - 100 milhões).
O primeiro brasileiro na lista é Paulo Coelho (O Alquimista - 65 milhões).

A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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