Para sempre, Yamato!


Estava eu zapeando por canais aleatórios em um domingo de noite quando me deparo com uma cena impressionante: um navio de guerra, de casco vermelho rubro e impressionantes canhões, irrompe das águas profundas de um oceano para ganhar os ares, invadindo o espaço sideral!


Sim, é isso mesmo! Um navio no espaço!






Eu fiquei vários minutos olhando o filme enquanto a minha memória já um tanto debilitada pela idade irrompia de flashbacks da minha infância de outrora. Como era o nome do desenho? Cargueiro Espacial? Não, não era isso. Batalha espacial? Não, também não. Patrulha Espacial? Quase... era...



Patrulha Estelar! Um anime produzido no Japão em 1974 e exibido no Brasil pela Record e a extinta TV Manchete. Foi um dos primeiros, e talvez mais importantes, desenhos que já existi na minha infância. Porquê? Bem, para responder a esta pergunta precisamos cavoucar o túnel do tempo...


A história se passa no longínquo (naquele tempo era mais longínquo, agora, nem tanto...) 2199, quando a Terra estaria sendo devastada pelas bombas radioativas lançadas por alienígenas do planeta Gamilon. A humanidade está refugiada em cidades subterrâneas, mas a radioatividade está penetrando nas defesas terráqueas e a extinção da humanidade é eminente. Então, quando tudo parece perdido, uma estranha espaçonave se acidenta em Marte; nela, uma mensagem da rainha Starsha, do planeta Iscandar, oferece ajuda à Terra, trazendo planos para a construção de um motor capaz de viajar mais rápido do que a luz e oferecendo uma arma (chamada de D-Cosmo Cleaner) que poderia acabar com a radiação dos Gamilonianos. O problema é que a dita cuja está no planeta Iscandar, na Grande Nuvem de Magalhães.


Secretamente as defesas do nosso planetinha azul constroem uma impressionante e maravilhosa espaçonave de combate a partir dos destroços do encouraçado japonês Yamato que jazia no fundo do mar. Então, a espaçonave parte e a primeira série de 26 episódios conta a viagem até Iscandar e o retorno triunfante do navio de guerra.



As cenas de batalha, que são o ponto forte da animação, foram produzidas a partir das formações e naves de combate reais, principalmente baseadas na marinha japonesa. Na verdade toda a animação traz uma grande referência à marinha nipônica; no início da serie é mostrado o navio Yamato original sendo afundado pela força aérea dos Estados Unidos. Muito foi especulado se a série não seria uma grande metáfora para as lutas ocorridas durante a segunda guerra mundial e que os Gamilonianos estariam representando os americanos. Independente destas discussões, parece não haver dúvida de que ela elevou a autoestima do povo japonês (a série fez tanto sucesso no Japão que, por muito tempo, ela foi muito mais cultuada do que os filmes de Guerra nas Estrelas).



Mas o que mais me chamou a atenção quando eu assisti a série pela primeira vez foi o caráter de folhetim da história. Na época eu também assistia outras séries de televisão e desenhos, mas em nenhum deles a questão do tempo decorrido do último episódio era tão crucial ou necessário como no anime: a história da Yamato tinha realmente uma sequencia que precisava ser vista (somente para comparar, dificilmente um episódio de Jornada nas Estrelas, que passava na televisão aberta mais ou menos na mesma época, impediria de você assistir o próximo capítulo). Durante toda a primeira temporada (A Busca de Iscandar), a gente assistia os conflitos se desenvolverem devagar, sem a necessidade de resolver tudo até o último minuto do capítulo. E isso me marcou profundamente e me demonstrou, pela primeira vez, a necessidade de planejar com antecedência e coerência a sua obra antes que ela se perca pelo caminho.



A série ainda teve mais duas sessões completas: Cometa Império (onde o imperador dos Gamilons retorna em busca de vingança) e a Crise do Sol, o meu favorito. Neste último, uma guerra entre duas nações interplanetárias acaba disparando um míssil contra o nosso Sol, acelerando o seu processo de fusão nuclear. Agora, a nossa estrela amarela vai explodir em menos de um ano e a tripulação da Yamato precisa encontrar um novo planeta para a humanidade. Ao final de cada episódio aparecia a perturbadora mensagem: de agora até a extinção da humanidade, somente restam mais tantos dias. Aterrador!



A série ainda teve vários telefilmes. O primeiro, na verdade, condensava toda a história da primeira sessão e foi lançado com o nome de Space Cruiser Yamato. Como o sucesso do filme nos cinemas foi estrondoso, os produtores desenvolveram um segundo filme, chamado Farewell to Space Battleship Yamato onde, como o próprio nome já indicava, a nave e sua tripulação se envolviam em uma missão suicida para livrar a humanidade de uma ameaça intergalática. Este segundo filme seria desconsiderado posteriormente, por razões óbvias.



Então, depois da segunda série (Cometa Império), foi lançado um filme diretamente para a televisão, chamado Yamato: The New Voyage, onde a tripulação enfrenta uma nova ameaça, o Black Nebula Empire. Um pouco depois, o filme Be Forever Yamato é lançado nos cinemas para alavancar a terceira séria do anime (A Crise do Sol). Após esta série, o último filme é lançado (Final Yamato) em 1983.



As coisas permaneceram neste pé por vários anos até que, em 2010, foi lançado o filme Space Battleship Yamato. Dirigido por Takashi Yamazki, o filme reconta toda a primeira sessão da anime, mas introduzindo um final alternativo. Como boa parte dos filmes japoneses de ação, este traz atores que carregam bastante nas interpretações. As emoções são exacerbadas e os pequenos dramas que envolvem a história são rapidamente resolvidos. Apesar disso, o apuro técnico é excelente e a trama tem sentido. O filme teve pouca divulgação no lado ocidental do mundo e foi por isso, que num domingo de noite, zapeando pela televisão, acabei me deparando com a última peça da saga Yamato.






Independente de gostar ou não de ficção científica, a série Yamato ainda é uma obra que merece ser vista. Considerada até hoje como a precursora da era de ouro da animação japonesa e mundial, o brilhante encouraçado vermelho ainda promete atrair multidões. 



Bom divertimento!




O ator Takuya Kimura, que interpeta Kodai no filme de 2010, foi considerado um Han Solo com um cabelo um pouco melhor.
A Disney chegou a comprar os direitos da série Yamato e pretendia reconstruir a história baseada no U.S.S. Arizona, que foi afundado pelos japoneses durante o ataque a Pearl Harbor. A ideia não vingou e os direitos foram devolvidos.
O filme custou "apenas" 12 milhões de dólares e, na sua estréia, atraiu mais gente no Japão do que Harry Potter e as Relíquias da Morte - parte 1.

A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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