Depois de meses de negociações, promessas e atrasos, a plataforma digital de literatura desembarcou no Brasil com força total. Pressionados pela gigante Amazon, que chegou em terras tupiniquins no final de 2012, as principais livrarias brasileiras lançaram suas próprias plataformas de livros digitais, competindo por um mercado que promete ser tão acirrado quanto os livros físicos (papel). Entre aplicativos para tablets, smartphones ou computadores pessoais e leitores digitais como o Kindle e o Kobo, as livrarias Saraiva, Cultura e a própria Amazon lideram as vendas de livros digitais no Brasil. E estas livrarias ainda enfrentam a concorrência de dois grandes gigantes da indústria mundial: a AppleStore e o Google Play, que também passaram a vender livros por aqui.
Múltiplas plataformas no Brasil |
- Apple
- Saraiva
- Amazon
- Kobo / Cultura
Estes dados refletem a penetração da indústria da “maçã” no Brasil, que passou a vender livros digitais bem antes dos demais. No entanto, especialistas imaginam que o jogo deve mudar e que a configuração dos próximos meses não ficará longe do que acontece nos E.U.A.:
- Amazon – 60%
- Barnes & Nobles – 25%
- Apple – 7%
- Google – 7%
- Kobo e outros – 1%
Kindle ou Kobo? |
O Kobo acabou perdendo espaço no mercado americano devido à quebra em sua pareceria com o seu principal distribuidor, o Borders. A questão do catálogo oferecido aos leitores acaba se tornando um dos principais atrativos aos consumidores; afinal, ninguém quer comprar múltiplos readers. Por isso, o mercado de aplicativos para tablets acabou crescendo, e muito. Mesmo a Amazon, que investiu pesado no Kindle, acabou distribuindo, gratuitamente, aplicativos para todos os tipos de tablets e computadores pessoais.
E como as editoras nacionais estão encarando o mercado dos livros digitais? Vale a pena vender livros nestas plataformas? Entrevistamos M.D. Amado, da Editora Estronho e Erick Sama, da Editora Draco sobre o mercado dos livros digitais.
Editora Estronho |
O nosso público mesmo, que gosta de leitura e aprecia os contos, não vai desmerecer o trabalho do autor e da editora. E o principal é mesmo a divulgação do trabalho da editora e dos autores. Com preços baixos, você até arrisca a ler algo de um autor desconhecido, o que nem sempre acontece com o papel. Se piratearem, a divulgação até aumenta. Não é legal, não é justo, é uma p... sacanagem, mas ainda assim não é um prejuízo total.
Editora Draco |
A segunda questão apresentada centrava nos custos da produção: assim como os livros digitais eliminam os gastos com impressão, gráfica e envio, há outros custos associados que permanecem, como revisão, diagramação, capista, análise do texto e pagamentos dos direitos do autor. Para ilustrar o cenário brasileiro em relação ao livro digital, realizamos uma pesquisa nas livrarias que vendem nas duas plataformas (físico e eBook). Na maioria dos casos é difícil fugir dos exemplos abaixo, onde temos valores muito próximos entre as duas plataformas.
Saraiva - As Aventuras de Pi – ebook: R$ 20,40 – físico: R$ 24,80
Cultura – A Dança dos Dragões – ebook: R$ 31,99 – físico: R$ 38,90
Na Amazon americana, por exemplo, o cenário é diverso:
Amazon (EUA) – A Dança dos Dragões – ebook: US$ 9,99 – físico: US$ 19,89
É interessante perceber que o custo do livro físico é praticamente o mesmo, mas a diferença para o livro eletrônico é brutal. Questionamos aos editores como seria possível equacionar estes parâmetros para cobrar um preço justo aos leitores.
Amado (Editora Estronho) enfatiza que o preço justo para o leitor esbarra no comissionamento dos canais de venda, pois existe um custo de produção e retrabalho para ser criado um eBook. No entanto ele acredita que a mídia é importante para ser explorada na divulgação dos autores e das editoras, pois se o leitor gostar do trabalho, ele tende a espalhar a informação por aí.
Para Erick (Editora Draco), a forma de equacionar o preço é retirar completamente os custos do preço do livro. A editora trabalha com descontos entre 40% a 60% para os livros digitais e enfatiza que a ideia da editora é profissionalizar o mercado da literatura fantástica no Brasil (foco da empresa), apresentando remunerações adequadas aos autores e impulsionando as vendas.
Por último, questionamos se as editoras pretendem focar mais na publicação eletrônica, na impressa ou se preferem trabalhar em ambas plataformas.
Amado (Editora Estronho) explica que a editora pretende trabalhar com títulos que sairão apenas na versão eletrônica, enfatizando contos que não aparecem nas antologias já publicadas ou pequenas coletâneas solo e noveletas. Mas, para as publicações já previstas no formato físico, todas deverão ser lançadas, se possível, simultaneamente no formato eletrônico (salvo alguma preferência explícita de autores que prefiram não trabalhar com a mídia eletrônica). Ainda há a possibilidade de antologias de contos saírem diretamente no formato eBook para, depois, serem lançados no formato impresso. Cada caso será analisado individualmente.
A Editora Draco pensa cada suporte em relação a uma lógica própria, abrindo as suas possibilidades. Já há publicações de livros somente na plataforma eletrônica, assim como os contos avulsos que são vendidos neste formato. Erick também enfatiza que há algumas possibilidades que podem ser exploradas no formato eBook, como, por exemplo, as ilustrações coloridas. Este tipo de mídia, se apresentada em um livro impresso, pode acabar inviabilizando o projeto pelo alto custo. Na plataforma eletrônica este problema desaparece. Além disso, há projetos para inclusão de recursos audiovisuais e seleção de material adicional exclusivo para as versões eletrônicas – a coletânea Dragões, por exemplo, apresenta seis contos a mais do que o livro impresso.
Impresso ou digital? Kindle ou Kobo? AppleStore ou Google Play? Saraiva ou Cultura? As possibilidades se multiplicam e o mercado ainda está em acomodação. No entanto, parece certo que os livros digitais desembarcaram no Brasil para ficar e que não será raro, num futuro próximo, você poder andar por aí com um camalhaço de duas mil páginas em um tablete fininho, fininho...
Boas e-leituras!
70% dos custos fixos da publicação de jornais são originários do processo de compra de papel, impressão e distribuição. Tais custos são zerados nos jornais eletrônicos.
De 2008 para cá, somente o livro The Help, de Kathryn Stockett (2011), figurou como o mais vendido na Amazon Kindle sem ser parte de uma série de livros.
Os outros livros pertenciam as seguintes sequências literárias: Os Pilares da Terra, Crepúsculo, O Último Símbolo, Millennium e 50 tons de Cinza.
A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário
Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
duncan garibaldi - facebook - twitter
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