Li Dom Casmurro...Finalmente!


Título: Dom Casmurro
Autor: Machado de Assis
Editora: Escala Educacional
Edição: 2008
Número de Páginas: 159
ISBN:978-85-377-0632-9

Sei que deveria tê-lo lido na minha época de escola, prestes a prestar os vestibulares da vida, mas não, não o fiz. Quando terminei a leitura questionei-me o por quê tanto negligenciara esta obra, a resposta veio muito rápido: justamente nessa fase de escola certos livros (clássicos) nos são impostos, para trabalhos, para as provas, como citei anteriormente, criando assim, por detrás das grandes obras um sentimento de leitura obrigatória, que em nada agrada os jovens.

Bentinho (César Cardadeiro) e Capitu ( Letícia Persiles)
na juventude (Minissérie CAPITU)
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Ter procrastinado a leitura não significa que não tenha tido contato com a história. A primeira vez que vi e ouvi falar em Dom Casmurro foi numa peça de teatro. Gostei, no entanto não foi o bastante para aguçar meu interesse. Em outro momento tive a experiência televisiva com a obra de Machado de Assis, quando a Globo exibiu a minissérie Capitu, composta de cinco capítulos, em homenagem ao autor e à obra. Capitu agradou-me, desde a música Elephant Gun da banda Beirut até a bela atuação.  Por fim, li um resumo da obra com o escopo de não ficar tão descontextualizado, caso Machado e seu Dom Casmurro figurassem em algum vestibular.

Enfim, cá estou e vou contar um pouco da história que deixa margem para interpretações dos leitores quanto ao seu final, um dos elementos que a tornam aclamada.


Em Dom Casmurro temos Bentinho, filho de Dona Glória, prometido a Deus que se tornaria padre quando fosse o tempo certo, mas essa não era a vontade do garoto, uma vez que, embora muito novo, já nutria uma paixão por Capitolina, ou melhor, Capitu, a garota da casa vizinha, com seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada.

Bentinho (Michel Melamed) e Capitu (Maria Fernanda Cândido)
na fase adulta (Minissérie CAPITU).
A promessa de D. Glória parecia um tanto esquecida, mas fora reavivada pelo questionamento de José Dias e acompanhada de rumores, que Bentinho e Capitu estavam de namoricos pelos cantos, algo que realmente era uma ameaça a tal promessa.

Bentinho  tentava a todo custo encontrar uma forma de escapar do seminário, visto que não tinha a mínima vocação para padre e não tinha em seus planos esquecer sua amada. Uma passagem cômica do livro é quando finalmente eles se beijam pela primeira vez e ele afirma orgulhoso “- sou homem”.

Quando repeti isto, pela terceira vez, pensei no seminário, mas como se pensa em perigo que passou, um mal abortado, um pesadelo extinto; todos os nervos me disseram que homens não são padres. O sangue era da mesma opinião. Outra vez senti os beiços de Capitu. Talvez abuso um pouco das reminiscências osculares, mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das memórias antigas (pág. 54).

O tempo passa e o rapaz acaba indo para o seminário, com a ideia fixa de sair dali. Lá conhece Escobar, tornam-se muito amigos, amizade que perdura até a fase adulta e termina de forma trágica e abrupta. Ambos saem do seminário, Bentinho estudou as leis e tornou-se advogado, Escobar por sua vez tornou-se comerciante, o que lhe agradava desde novo.

Durante o tempo em que o filho estava longe de seu convívio, D. Glória tinha como companhia Capitu, o que ajudou que o pensamento da viúva mudasse com relação à moça, fazendo gosto do casamento dos dois, antes que qualquer coisa a respeito fosse dita. Claro, com uma leve interferência de José Dias.

Após o casamento de Bentinho e Capitu a história é relatada de supetão, até chegar ao fatídico final sem respostas claras e diretas, cabendo ao leitor interpretar como quiser e responder por si só os questionamentos que advirem.

Machado de Assis (1839-1908)
A grande pergunta que paira no ar é, afinal, houve mesmo traição por parte de Capitu? A meu ver não. O livro inteiro é narrado em primeira pessoa, portanto temos apenas a perspectiva de Bentinho dos fatos, as suas emoções, as expressões e características alheias delineadas por ele, levando-nos a ver com esses mesmos olhos. Sabe-se que Capitu gostava de ser vista e de ver, mas o próprio Bentinho gostava de aparecer em público, expondo aos demais que ele é quem estava de braços dados com a bela moça e que de certo modo ela pertencia-lhe.

Chegando a conclusões precipitadas, baseadas em provas infundadas e num ciúme exacerbado, o narrador termina seu relato firme na decisão de que houve sim um adultério, levando uma vida amarga, marcada pelas perdas e solitária, revivendo a sua única amada com aquele olhar que o encantara desde a infância. Vindo a reafirmar o porque o chamam de Casmurro, no sentido de ser um sujeito de cara fechada, de poucos amigos.

Agora, depois de finalmente ler admito: adorei Dom Casmurro. Tem romance, mas não é aquela coisa melosa e açucarada, uma vez que está envolto pelas peripécias de Bentinho; o drama também está presente em uma dose extra, porém há em alguns momentos comicidade, principalmente nos momentos da infância, quando as duas crianças descobriam o sentimento um pelo outro. O narrador, no caso Bentinho, em dado momento fala diretamente ao leitor, criando uma intimidade com este e também evidenciando certa dinamicidade no texto.

O que a princípio pode atrapalhar na leitura é a linguagem, totalmente nos moldes da época em que se dera a publicação (1899), todavia, no decorrer das páginas acostuma-se com as palavras de Machado, hoje muitas em desuso, por exemplo, ósculo, referindo-se a beijo. Justamente tal jogo de palavras empresta à obra o ar poético que cativa o leitor.

Indico para leitura, mas em seu tempo certo, quando o interesse for real e não por uma obrigação.  

 FONTE

Matheus Gonçalves
Matheus Gonçalves
Matheus, 20 anos, estudante de Direito que mora no interior de São Paulo. Apaixonado por livros, músicas, séries, filmes e cães. Recém abandonado pela saga Crepúsculo e fã de Nicholas Sparks. Nas horas vagas dou uma de cozinheiro, sobretudo doces. Sonho em conhecer o mundo e quem sabe escrever um livro.

Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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