Nova Coluna: Olhar Divergente



Você acaba de entrar em uma loja de departamentos para procurar uma camiseta para o seu filho e, enquanto examina as gondolas e passa os olhos pelas araras, de repente você se depara com uma jaqueta militar que só aparece no canto dos seus olhos. A visão é rapidamente obscurecida pelo colorido das camisetas, calções e bermudas que se espalham pelas ruelas da loja, mas, por algum motivo, aquilo fica na sua mente, perturbando-lhe o pensamento até que ele tome toda a sua consciência e só se afogue quando ele for devidamente registrado em algum lugar.



Você já passou por esta experiência? Se sim, parabéns! Você é um candidato a escritor com o Olhar Divergente necessário para desenvolver uma boa história de fantasia.

Divergente é aquele que diverge, que se afasta cada vez mais de alguma coisa, que não concorda com algo. Para este vos escreve, o olhar divergente é a forma como os autores de fantasia e aventura observam o mundo a nossa volta, utilizando os elementos comuns da realidade para moldar uma história diversa ao curso natural da história. A fantasia nada mais é do que uma história que poderia ter acontecido se determinadas leis físicas ou históricas fossem alteradas. O autor de fantasia molda o tecido da realidade para adequá-lo à sua concepção, às suas verdades. Quanto mais o autor torce a realidade, mais distante ela se torna das nossas próprias experiências, o que pode causar uma ruptura: a tensão criada pela divergência entre o mundo criado e o nosso pode acabar afastando o leitor, que não compreende o que está sendo descrito.

Saber moldar a realidade na fantasia é o primeiro passo para o escritor e é uma das primeiras coisas a serem observadas pelos leitores, mesmo que inconscientemente. É comum notar que a maioria das histórias fantásticas de sucesso (e vou utilizar aqui como parâmetro unicamente o número de leitores, pois a questão da qualidade da história é extremamente complexa e, muitas vezes, muito particular), utiliza com parcimônia os elementos fantásticos. Em o Senhor dos Anéis (J.R.R.Tolkien), além das raças diversas (hobbits, elfos, anões, orcs, principalmente),  pouca divergência é realmente utilizada. A história, na maior parte do tempo, se passa em lugares que poderiam existir em nosso mundo real, pois são construtos naturais. 

Da mesma forma, na saga Guerra dos Tronos (George R.R. Martin), os elementos fantásticos são extremamente reduzidos (alguns dragões, gigantes, as crianças da floresta, os outros e os caminhantes brancos), sendo que boa parte da ação está centrada nas questões humanas. Por outro lado, em Harry Potter (J.K.Rowling), a autora se utiliza de outro estratagema, desenvolvendo paralelos entre o mundo moderno e o mundo mágico, de tal forma que o leitor penetre no mundo bruxo calcado em suas próprias experiências mundanas: o correio (corujas), as aulas de química (poções), a escola, o esporte juvenil como catalizador das atenções masculinas (quadribol), etc. Aqui, a autora utiliza o olhar divergente de forma a alterar toda a concepção escolar que estamos acostumados do ponto de vista de uma sociedade bruxa.

A coluna Olhar Divergente pretende trazer um olhar diverso sobre o universo da fantasia, com ênfase na literatura, mas viajando também por outros meios, filmes, desenhos, séries, comics, música e qualquer outra arte que tenha como referência a fantasia. Mais do que resenhas ou comentários, pretendo discutir aqui elementos da literatura fantástica, trazer opiniões sobre o desenvolvimento do gênero fantástico e procurar um modo divergente de discutir a fantasia.

E sempre, no final da coluna, uma pequena lista de pílulas fantásticas, as pacdots, com curiosidades e notícias sobre o mundo que cerca o gênero fantástico.

E quanto àquela jaqueta em estilo militar?

Charlotte lançou um olhar crítico para Daniel, examinando rapidamente as suas calças jeans surradas, seu blusão escuro e seu casaco de lã xadrez que o garoto, para parecer mais descolado, arrancara um dos bolsos, deixando-o dependurado. Com um balançar rápido da cabeça, ela saiu do banheiro murmurando algo que pareceu ao rapaz um “Definitivamente não!” que lhe congelou o estômago. Pouco depois, Charlotte voltou com uma jaqueta militar camuflada cujas folhas em diferentes tons de verde já estavam bem desbotadas. Ela arrancou o casaco de lã do garoto e o ajudou a se vestir.

“Perfeito!” – exclamou, empurrando Daniel para fora do apartamento. Logo, eles desciam a rua, caminhando a passos largos para a noite da Quinta Gótica do pub “Toca-do-Porco-Espinho”.






Mace Windu, interpretado por Samuel L. Jackson em Star Wars, é o único Jedi que possui um sabre roxo.

"Em um buraco no chão vivia um hobbit..." foi escrita em uma folha deixada em branco num documento de um candidato a entrar na universidade. SEMPRE escreva suas ideias.
Em 2013, deverão ser lançados os filmes "Sinbad: A Quinta Viagem" e "Mad Max: Fury Road". Para os que nasceram na década de 70, um prato cheio!

Até a próxima!

A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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