"Nós somos os filhos do meio da história,
sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande
Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é
a nossa vida. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos
ricos, estrelas de cinema e astros do rock. Mas não seremos. E estamos aos
poucos aprendendo isso. E estamos muito , muito revoltados".
É preciso que uma coisa fique clara: a primeira
regra do Clube da Luta é que você não fala sobre o Clube da Luta. Sendo assim,
não me envergonho em quebrar tal tradição, uma vez que o conceito criado pelo
senhor Durden perpassou gerações de leitores e espectadores, compelindo-os a
enxergar a vida de uma forma diferente; olhar para coisas que antes pareciam
invisíveis e realizar proezas sádicas e subversivas.
Homens que se libertam por meio da violência
De fato, Clube da Luta tornou-se um clássico da
literatura e do cinema. O livro, publicado em 1996 lá fora e escrito por Chuck Palahniuk, foi relançado no
Brasil recentemente pela editora LEYA. Embora não conhecesse a obra e tenha
visto o filme primeiro, é incontestável que a adaptação cinematográfica
preservou a essência do conteúdo central, causando, em muitas cenas, uma
epifania catártica brutal. E fico muito feliz em dizer que, ainda que tenham
suas sutis dicotomias, as duas obras se completam.
Clube da Luta é um longa de 1999, dirigido
por David Fincher (mesmo diretor de A
Rede Social) e estrelado por Brad
Pitt e Edward Norton. O
surpreendente do filme é que a luta funciona como um dos elementos principais,
porém não é o que sustenta o enredo; ela é uma bengala que exerce o seu papel
até um dado momento, permitindo que em seguida a história ande com suas
próprias pernas e siga por caminhos imprevisíveis.
Norton encarna a um personagem-narrador sem nome,
cuja vida se resume ao trabalho e ao consumo de produtos sofisticados que estão
na moda ou que simplesmente chamam a atenção. Ele sofre de uma insônia terrível
e recebe um conselho para participar de grupos de apoio. Lá ele não encontra
apenas a cura para insônia, mas também a fuga da solidão. Ele ganha carinho e
atenção de pessoas infelizes e descobre como um abraço reconfortante pode ser
tornar um vício.
A tragédia: seu apartamento explode
misteriosamente com todas as coisas que o faziam sentir-se perto da perfeição.
Ele concentra-se no trabalho e, em uma viagem de negócios, conhece Tyler Durden (Pitt, em uma atuação
sensacional), um homem que fabrica e vende sabonetes. Ambos tomam cerveja,
conversam e logo depois começam a brigar. Eles sentem prazer em espancar um ao
outro e passam a fazê-lo todo fim de semana, atraindo a atenção de várias
pessoas. E assim nasce o Clube da Luta, composto por homens que se reúnem no
porão de um bar com o intuito de extravasar, na base da violência, todas as
frustrações de suas vidas patéticas.
O clube se torna uma válvula de escape, uma forma
de escapar da realidade sufocante, uma maneira de atingir o potencial máximo através
de socos e chutes. E fica evidente e muito mais intenso para o narrador, visto
que o grupo de apoio do qual fazia parte não lhe dava aquela sensação de
liberdade, o sabor de sentir a vida. O problema é que Tyler é um visionário;
ele enxerga no clube uma oportunidade de revolução, de mudar a história, e, por
meio de discursos persuasivos e suaves, passa a montar uma facção. Todos
veneram Tyler, todos obedecem a Tyler, todos o veem como um salvador que os
despertou para a vida real. O Clube da Luta cresce, evolui, e cria uma
ramificação chamada Projeto Destruição. O objetivo desse projeto é derrubar o
sistema capitalista e libertar os consumidores do sacrifício de pagar dívidas.
É por meio do terrorismo e vandalismo que o
exército de Tyler aumenta e cruza as grandes cidades do país. A meta é alcançar
o caos. O personagem de Norton percebe que Tyler transformou-se no líder de uma
rebelião iminente. Clube da Luta é inteligente por não se tratar apenas
de luta. Nele há claramente discursos políticos, filosóficos, uma sátira social
gigantesca e a ideia de que a loucura é a saída para tudo. Portanto, um aviso: caso
tenha se interessado e hoje seja a sua primeira vez no Clube da Luta, você tem
que lutar. Boa sorte.
“Primeiro, você tem que se entregar. Primeiro você tem que saber, não temer. Saber que um dia você vai morrer. Só depois de perder tudo é que estamos livres para fazer qualquer coisa”.
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Leonardo Da Vinci
Leonardo Da Vinci
Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 24 anos, graduado em Letras pela Universidade Potiguar, habilitado em Língua Portuguesa e Literatura. Revisor, escritor, ator nas horas vagas e proprietário do blog Menino das Letras, onde expõe resenhas de filmes e livros. Reside atualmente em Natal, Rio Grande do Norte.
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