{Resenha} Os Incríveis Infortúnios de um Escritor Aprendiz - Florian Zeller

Autor: Florian Zeller
Editora: Rocco
Ano: 2010
Número de Páginas: 207
Julien Parme vai ser escritor. Vai beber uísque o dia inteiro e receber em seu escritório, com olhar cínico e deprimido, belas jornalistas que vão lhe fazer perguntas sobre seus grandes romances. Mas, por enquanto, Julien Parme tem 14 anos, acaba de fugir de casa e precisa aprender a lidar com esse primeiro encontro com a liberdade.
Embora costume dizer que sua adolescência ficou pra trás, "aos 10, 11 anos", nosso protagonista é, na verdade, um típico adolescente rebelde. Após a morte prematura do pai, ele sofre por ter de conviver com a mãe "megassevera" e o padrasto "bobalhão", que traz "de bônus" à família a detestável Bénédicte, agora prestes a se tornar sua meia-irmã.

Flagrado com um cigarro no banheiro da escola e, ato contínuo, proibido de ir à festa ais importante de sua vida - onde encontraria a bela Mathilde -, Julien descobre ainda que sua mãe está escondendo um grande segredo. Essa é a deixa para que ele saia de casa no meio da noite, levando apenas sua jaqueta preta, o cartão de crédito de seu padrasto e muitas citações literárias - embora um pouco confusas, é verdade.
 É às ruas de Paris que este fã de La Fontaine se lança, com direito a mulheres sedutoras, corridas de táxi pela maadrugada, bares sombrios, tapas e socos, muitos cigarros, champanhe e, claro, um grande amor. Em seu quarto romance, o jovem autor Florian Zeller, vencedor de diversos prêmios literários, faz um retrato tão irônico quanto afetuoso dessa fase tão complicada da vida, em que nosso infinito anseio de liberdade é freado por um simples "não" saído da boca dos nossos pais. "A vida é um romance quando se tem coragem", escreve ele e, de fato, Julien segue a receita à risca - mesmo que a coragem dure apenas o tempo de um livro.

Achei esse livro jogado na prateleira de uma livraria na semana passada, e o título me chamou a atenção. E como eu gosto de sair do mainstream às vezes, achei que seria legal lê-lo.
Nessa simples história, acompanhamos alguns dias da vida de Julien Parme, um jovem francês que sonha em ser um grande e conhecido escritor. Só que, por enquanto, ele só tem 14 anos e acabou de brigar com a mãe e foge de casa, sem lugar pra ir e somente com o cartão de crédito roubado do padrasto.

A personalidade de Julien é uma coisa que chama a atenção do autor. Ele é aquele tipo de adolescente que, nos dias de hoje, seria chamado de "estranho": ama ler, sabe citações de vários escritores de cor, fuma e bebe muito e tem uma tara enorme por seios. Mas além disso, ele é muito inteligente e tem uma visão diferenciada do mundo e das pessoas à sua volta.

Por exemplo, se você diz "desci pra baixo", o sujeito que te corrige na zoação perguntando "Ah, é, não foi pro alto que você desceu?", pois é, esse sujeito, noventa por cento das vezes, eu tenho vontade de matar ele. Acho que isso é simplesmente babaquice, esse tipo de respostinha. Porque, pra mim, quando a gente diz "descer pra baixo", é pra dizer uma coisa precisa.

Na primeira parte do livro, ficamos conhecendo mais da vida de Julien, a história da sua família, como ele acabou morando com a mãe e um padrasto horrível e uma meia-irmã irritante. Posso dizer que fiquei com dó do protagonista porque, como ele mesmo diz, ninguém o queria por perto, por conta da personalidade e estilo de vida dele que incomodava a todos, e que eu gostei tanto.

O que me deixou bolado foi principalmente a impressão de que queriam se livrar de mim. Minha mãe, depois meu tio. Enfim, ninguém queria me ter por perto.

Depois de ser flagrado fumando no banheiro da escola e ser proibido de ir à "festa do ano", Julien acaba descobrindo que sua mãe esconde algo importante dele. Algo que deixaria a situação em sua casa ainda mais delicada. É depois disso que ele decide que deve ir embora dali, que ninguém ali o ama e que, ficando ali, nada daria certo. Ninguém pode condená-lo, certo? Atire a primeira pedra quem nunca pensou isso, nem que tenha sido por um segundo.

Assim que ele sai, o garoto fica vagando pelas ruas de Paris, sem um lugar pra ir, nem onde dormir. Acompanhamos todas as suas dificuldades, desde a ausência de ajuda, até a ausência de cigarros.

Quando percebemos, estamos lendo sobre um garoto normal, com um coração partido, carente e com problemas familiares e que, de algum modo, sempre acaba escolhendo as piores soluções para seus problemas. Depois de um tempo, eu me vi incapaz de parar de ler, de tanta curiosidade para saber como o jovem Julien sairia daquela situação.

É com essa história simples que o autor nos apresenta um protagonista cativante, com uma personalidade ótima e que cria uma leitura simples, com um tema comum para todos os adolescentes e ex-adolescentes, e que, acredito eu, desagradará a poucos.

Uma coisa que chama a atenção é o extremo desejo do garoto de tornar-se escritor. Vez ou outra, pegamos ele divagando sobre um futuro distante, quando jornalistas fariam fila para conversar sobre seus romances e pessoas chorariam ao ouvir alguns versos seus.

Era o que eu ia fazer se tivesse coragem. A vida é um romance quando se tem coragem. Puta merda. Um aforismo! Rapaz! Às vezes, eu era capaz de mandar uma frase dessas! Peguei rápido um lápis na mochila, sentei no último degrau e anotei ela em algum lugar pra não esquecer. Depois fiz dois círculos em torno dela. E escrevi do lado: "Para o romance".

Outra coisa é o bom-humor com que o garoto encara a vida, mesmo diante de seus problemas. Certas passagens nos fazem rir e desejar que estivéssemos vivendo aquela história.

Afinal de contas, eu não era mais moleque. Eu ia fazer quinze anos em breve. Dali um ano. 

Mais uma coisa. Não tenho certeza de que se isso vai agradar a muitas pessoas, mas o escritor tem um estilo bem diferente. A maioria de seus parágrafos são feitos de frases bem curtas, cheias de vírgulas e pontos, mas que não prejudicam na leitura. Outro detalhe é o uso de algumas palavras que hoje em dia são meio ebsoletas, mas acho que isso foi culpa do tradutor. Mas nada que não possamos relevar.

Acabei de me dar conta de que esqueci de dizer por que eles estavam me mandando pra lá. Faço isso sempre. Esquecer de contar as coisas importantes. Tenho que contar a história toda pra vocês entenderem. Senão vocês não vão entender nada. Bom.

Enfim, é um livro recomendado, mas não espere muita coisa, porque sinto que ele não agradaria a tantas pessoas assim, mas espero que se vocês puderem ler, acabem gostando. Outra coisa que eu to sentindo é que essa resenha ficou bem ruim, porque estou muito cansado hoje, mas sentei pra escrever para vocês mesmo assim. Espero que tenham gostado.

Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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