Filme - O homem que desafiou o diabo





Zé Araújo é um caixeiro-viajante que se dá muito bem com as mulheres em qualquer lugar que vá. Suas aventuras acabam quando ele é obrigado a se casar com Dualiba, ficando condenado a trabalhar exaustivamente no armazém de seu sogro. Depois de tanto trabalho e humilhação, Zé Araújo se revolta e transforma-se no caboclo Ojuara, solitário herói, movido a cachaça e sempre à procura de mulheres e metido em confusões.




Fábula à nordestina



[Sérgio Bernardo]

Um exemplo de como se fazer arte no cinema, para mim, está em um filme brasileiro que, à época do seu lançamento, em 2007, não foi muito bem recebido pela crítica. Isso, no campo pessoal, prova outra coisa: estou sempre na contramão da maioria. Que bom.



Ao assistir de novo a 'O homem que desafiou o diabo', de Moacyr Góes, celebrado diretor teatral, aplaudi de pé em plena sala de casa. E espero que hoje minha resenha instigue uma alma a ver esse thriller que mistura, que nem baião-de-dois, o fantástico e o erótico.


O nome do diretor, sozinho, já me recomendaria o filme. Dele, vi a peça mais marcante da minha carreira de rato de plateia quando morava no Rio de Janeiro: Os gigantes da montanha, de Luigi Pirandello. Do elenco, me recordo de Leon Góes, irmão de Moacyr, que no filme em questão encarna o serviçal corcunda da maga vivida por Flávia Alessandra.


O homem que desafiou o diabo começa meio chocho, concordo, e por alguns minutos parece mesmo não saber o caminho a seguir, como afirmou um crítico de jornal no ano de sua estreia nos cinemas. Porém, quando Zé Araújo, o mascate interpretado por Marcos Palmeira, vira Ojuara, as aventuras vão se sucedendo como se a gente estivesse lendo um cordel (nem seriam necessários os versos que pontilham a história para se perceber essa identificação com a poesia popular nordestina). Acresça-se a isso uma fotografia pra lá de esmerada e a trilha sonora muito bem produzida pelo nosso sempre doce bárbaro Gilberto Gil.


O trabalho dos realizadores do filme já teria valido por essa valorização da linguagem do cordel, que suponho seja também uma das propostas do escritor Nei Leandro de Castro no romance As pelejas de Ojuara, do qual o filme é adaptado. Ainda pretendo ler o livro, instigado pelas imagens da câmera de Moacyr. Elas mostram, ao lado da história, belas paisagens do Rio Grande do Norte. Há sertões ocres varados por um homem em seu cavalo e uma lagoa azul que um mar antigo deixou ao se afastar, entre paredões de rocha esculpidos pelo vento indomável. Até um castelo medieval em meio a calangos e mandacarus. Tivesse lá “pés-de-vento que dão água” e “montanhas feitas de rapadura”, já seria a Terra de São Saruê buscada pelo personagem central.



O filme também revela um segredo: o modo mais simples de espantar o diabo. O coisa-ruim vira e mexe atormenta nosso dom quixote potiguar, mas é passível de ser mandado de volta às profundas a um breve toque. Não vou contar a fórmula mágica. Quem tiver problemas com o dito cujo que veja O homem que desafiou o diabo. E repita o desafio se tiver coragem.

Sérgio Bernardo é escritor, autor dos livros Caverna dos signos Asfalto, e co-autor da coluna Sem poesia não dá do jornal virtual Sobrecapa Literal 


Ideval Junior

Capricorniano. Blgoueiro nos tempos livres. Adimirado pela sua Estante. 18 anos.

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